terça-feira, 27 de abril de 2010

SOBRE OS NÚMEROS

Uma aula qualquer, numa escola que pouco interessa.
A nova professora dispõe quatro objetos em cima de sua mesa. Após arrumá-los, um ao lado do outro, a professora pergunta para a sala:
- O que vocês estão vendo?
- Livro – respondem prontamente os dedicados alunos.
- O que mais? – indaga
- Caneta, caderno e um apagador.
- Quantos?
- Quatro, professora. – responderam os alunos, fitando com curiosidade a jovem professora.
- Então temos aqui quatro objetos. Correto? – continuou ela
- Siiiimmmmm... – em coro responderam os alunos, já perdendo o interesse por tão boba discussão.
Eis então que a professora lança uma verdadeira bomba aos seus alunos:
- Queridos, o quatro não existe!
Por um minuto, só o que se ouvia era o vento que batia insistente nas janelas da sala e um burburinho do lado de fora, de alunos que talvez não tinham que se preocupar se os números existiam ou não.
Primeiro o silêncio. Depois cochichos. De repente ouve-se a explosão alta do riso dos alunos que julgam louca a tal professora:
- Como não existe, professora. Olha ai na sua frente: quatro!!!
- Não. – afirmou calmamente a professora – Estes são objetos: livro, caderno, caneta e apagador. Mas não vejo nenhum quatro.
Incrédulos os alunos fitaram a professora. Alguns pensavam se deviam chamar a coordenadora para alertá-la de que a nova professora, definitivamente, não batia muito bem da cabeça. A professora, sem se abater, continou.
- O quatro é a total abstração. Ele não existe na natureza, não existe em lugar algum.
Alguns tentavam entender a lógica apresentada pela professora. Mas um dos alunos, totalmente impaciente, questionou a professora:
- Tu tá dizendo que o quatro não existe é??
- Sim. Ele não existe. Nós o representamos, como por exemplo, com estes objetos.
- Oh professora, tu não me leva a mal não, mas acho que a senhora viajou legal agora!
Foi então que ela lhe lançou um desafio:
- Aceito o seu argumento, mas você terá que sair da sala e só voltar quanto tiver encontrado o quatro por ai.
Arrogante, o aluno aceitou o desafio, saiu batendo a porta atrás de si e em poucos minutos estava de volta. Trazia com ele, um tanto desajeitado, quatro cadeiras amarelas que encontrou na sala ao lado.
- Taí professora. Quatro! – bradou orgulhoso, exibindo para a classe o seu feito heróico.
- Isso não é o quatro. – retrucou calmamente a professora – São apenas cadeiras. Você trouxe quatro cadeiras, mas ainda não vejo nenhum quatro.
O aluno enfurecido parecia querer avançar no pescoço da professora. Nesse momento, no fundo da sala, ergueu-se uma mãozinha tímida, pedindo a atenção de todos.
- Eu entendi, professora!
Todos os olhares se voltaram para aquela figura, que até então tinha se mantido a margem de toda a polêmica. A professora encorajou-a.
- Nós abstraímos os quatro. Não o encontramos por ai por que ele simplesmente não existe!
Lágrimas vieram aos olhos da professora, ela estava genuinamente emocionada.
- Continue, menina, continue!
- Quando pegamos quatro objetos, estamos representando esse quatro, pois ele não pode ser visto a não ser quando representado. Pode ser quatro árvores, quatro cadeiras. O quatro mesmo não está ali, apenas os objetos.
- Bravo!!! – não se agüentou a professora, aplaudindo a grandiosidade da aluna com evidente orgulho. Foi então, que a aluna encerrou sua fala, com chave de ouro.
- Mas se procurarmos bem, vamos encontrar o um, o dois, o três, o cinco, o seis, o sete... e com certeza, encontraremos o dez!!! – foi então ovacionada pelos seus colegas
Neste momento a professora respirou fundo e buscou dentro de si o motivo que a levou a abraçar tão fervorosamente a Educação. Até agora ela não encontrou.
Gisele Gutierrez

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