quarta-feira, 28 de setembro de 2011

FÉRIAS

Foi quando minha história se cruzou com tantas outras histórias e construímos, juntos, mais um pedacinho dela...
Era uma vez um porto. Dizia se que era um porto seguro. Diziam também que naquele lugar é que toda a história teria começado. Isso era mentira.
Certa vez, várias pessoas foram ao mesmo tempo para o porto. Elas eram muito diferente entre si: algumas pessoas chegaram sós, outras levaram outras consigo, mas achavam que não tinham nada em comum, mesmo assim, elas estavam todas ali. Olharam-se, mediram-se, isolaram-se, compartilharam o mesmo espaço por dias a fio. Foi então que algo incrível aconteceu: suas histórias se cruzaram com tantas outras histórias. E, de repente, eles a estavam escrevendo juntos.

Sem que ao menos se dessem conta disso, tudo mudou. Não estavam apenas vivendo no mesmo espaço, o estavam compartilhando. Passaram a importar-se uns com os outros. Mães se encontraram com outras esposas, que encontraram-se com filhos de outras mulheres, que se encontraram com outros irmãos e estavam felizes assim. Mas um certo sentimento de tristeza pairava sobre tudo: todos sabiam que nada daquilo iria durar. Mas mesmo assim, durante aqueles parcos dias tiveram momentos de sincera felicidade.


Conversas à beira da piscina, confissões ao pé da mesa. Sonhos e dores compartilhadas, noites em um hospital, a procura por algo que os ajudasse a guardar na memória o que estavam vivendo naquele momento. Havia os que confraternizavam ao som de músicas estranhas, outros se sacudiam freneticamente, já alguns procuravam os refúgios mais calmos do local. E foi assim, naturalmente, que velhos amigos tornaram-se mais amigos e que novas amizades tornaram-se importantes, laços foram criados e os antigos se fortaleceram...
E então, cada um seguiu o seu caminho. Cada um levando dentro de si um pedacinho do outro e deixando um pedaço de si. No fundo, o desejo era de que nada mudasse, mas todos sabiam que era impossível.

Como explicar que em tão pouco tempo algumas pessoas invadem nossas vidas, durante aquele período se tornam tão importantes e depois viramos as costas e vamos embora sem nem olhar para trás? Será que realmente não somos uma ilha?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MEMÓRIAS

Só quem viu, dançou e cantou ao som desta batida sabe do que estou falando 
Ainda na onda de embalos de sábado à noite, os anos 80 chegaram coloridos, com muito brilho, ombreiras, calças coladas, mini saias e mangas bufantes. Sem falar nos acessórios, muitos acessórios, e a maquiagem excessivamente forte. Ainda que tenha ficado conhecida como a Década Perdida da América Latina, período caracterizado por grande estagnação econômica dos países ao sul do Equador, nenhum momento foi tão esfuziante como a década de 80 e por aqui não foi diferente.
O pior com certeza foram os cortes de cabelo, provavelmente poucos sentem saudades disso: aqueles cortes repicados sustentados a base de muito laquê e gel, potes e mais potes de gel! Lembro que minha mãe nessa época usava blush em creme, batom vermelho e pulseiras, brincos, anéis dourados. E olha que ela não era uma das mais exageradas. Definitivamente, não foi a época mais discreta!
A música disco dominava as paradas de sucesso, mas em casa ainda ouvíamos discos de vinil do Elvis Presley e Abba. Quem arrasava quarteirões mesmo era Prince, Duran Duran, Cyndi Lauper, Lionel Richie, George Michael, R.E.M, A-Ha, Beastie Boys, The Police, Phil Collins, The Pretenders. Mas eram Madonna e Michael Jackson os verdadeiros reis do pop. Juntos, influenciaram toda uma geração. No Brasil, as paradas de sucesso ficaram por conta de Blitz, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, RPM, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Ira!, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Capital Inicial, Camisa de Vênus, Plebe Rude, só citando alguns. O rock ia direto na veia na década de 80 e hoje fica claro que foram esses caras os responsáveis pela paixão irremediável de toda uma geração. Foi nessa década, também que perdemos Raul Seixas e Cazuza. É de oitenta a primeira edição do Rock in Rio e o nascimento do Heavy Metal (Yes!)
Vídeo Cassete?!?! Não tínhamos. Lembro de aguardar ansiosamente os filmes passarem na TV. Assim como me lembro até hoje do meu primeiro filme de terror - O Exorcista – meu pai foi obrigado a me fazer companhia, junto com a manta azul, com a qual eu cobria a cabeça toda vez que Regan torcia a dela. A manta já foi faz tempo, ficou o gosto pelos filmes B. Sexta-feira 13, O ataque dos Tomates Assassinos, Poltergeister, Boneco Assassino e a Coisa, são ícones da minha infância. Sessão da Tarde era parada obrigatória durante o dia, e não importava se estava passando de novo Conta Comigo (baseado no conto de Steven King), a cena das sanguessugas era sempre imperdível, mesmo que pela 99ª vez! Tubarão, Indiana Jones e Star Wars também reuniam a molecada em frente da telinha, com direito a pipoca e guaraná. Lembro de todas as crianças da rua fuzilando seus pais por conta da grande estreia de Lagoa Azul (um verdadeiro escândalo na época). Fiquei roxa de raiva quando descobri que a única coisa de Lagoa Azul era, realmente, uma lagoa muuuuuito azul. Qualquer novela das 8 de hoje, deixaria os cabelinhos loiro de Brooke Shields arrepiados.
Mas a noite o assunto ficava mais sério. Com o pai em casa, todos ficavam bem quietinhos para assistir ao Jornal Nacional. Foi nesse horário que vi o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim, a fome na Etiópia, o fim da Ditadura Militar, a eleição de Ronald Reagan, nos Estados Unidos e de Margareth Thatcher, no Reino Unido, o movimento Diretas Já, as primeiras eleições, a morte do recém eleito presidente Tancredo Neves, o governo de José Sarney, o plano Cruzado, inflação, Amapá e Rondônia virarem estados brasileiros. Foi também quando, pela primeira vez, ouvi a palavra AIDS, suas primeiras vítimas, a tão esperada Constituição. Na época, nada daquilo tinha muito significado para mim, mas eram acontecimentos decisivos para um país que desde 1964 vivia a sombra da Ditadura. O mundo estava mudando, eu nem percebia. Só hoje entendo o que foi a efervescência dos anos 80. Ainda bem que aos domingos tudo parava para vermos as palhaçadas, em horário nobre, do quarteto formado por Didi, Dedé, Mussun e Zacarias, era Os Trapalhões que entravam em cena.
Mas era de segunda a sexta que encontrávamos nossos heróis: era dia de Show da Xuxa. Caverna do Dragão, Thundercats, Liga da Justiça, As Aventuras do Super Man, além de Jaspion e Changeman (da extinta TV Manchete). Fui fã incondicional dos Ursinhos Carinhosos, Smurfs, Cavalo de Fogo e Punk, a Levada da Breca. Saudades dessa infância, saudade de ver crianças de verdade e não essas miniaturas de adultos que mal sabem brincar.
Não tínhamos videogame, só o riquinho do fim da rua tinha o privilégio, nem ficávamos na rua o dia inteiro. Nessa época, as mães ficavam em casa e os filhos não eram meros produtos de casamentos mal planejados. As famílias ainda seguiam o modelo tradicional (pai, mãe, filhos e o cachorro), não creio que essa mudança tenha sido de fato benéfica, ao menos não foi para as crianças. Ansiávamos por noites bem quentes, pois podíamos brincar na rua, sempre sob o olhar de um ou outro pai, e nos deliciávamos brincando de rouba bandeira, queimada, amarelinha, pula corda e, quando ficamos muito quietos, pode ter certeza que era o tal de “beijo, abraço, aperto de mão ou volta no quarteirão”, a brincadeira da vez. Eram os hormônios que timidamente começavam a se agitar. Muito timidamente mesmo! Nas noites mais frias, passávamos horas às voltas com o Jogo da Vida ou o Banco Imobiliário. E enquanto os meninos colecionavam carrinhos Bate e Volta e Comandos em Ação, as meninas brincavam com as Fofoletes e trocavam papéis de carta.(só a bem pouco tempo me desfiz dos meus). Mas juntava todo mundo para brincar de autópsia com o extraterrestre NEB ou de cinema com o Super Projetor de Desenhos, da Estrela. A propósito, nos anos 80, a Estrela dominava o mercado de brinquedos, todos de que me lembro eram dessa empresa. Sempre que vejo essa marca, viajo no tempo e volto a minha infância. Que vontade de voltar a ser criança que dá às vezes.
Mas criança de verdade, não esses arremedos de infância que vejo por ai, com cérebros bitolados, que não sabem nem comprar pão na padaria. Se eles fossem tele transportados para a minha infância, com certeza voltariam correndo de lá, aos berros. Provavelmente, sairiam a caça de um bom celular para “xingar muito no twitter” e quem sabe, se não estivessem ocupados demais tentado escapar do que, com certeza, parece um pesadelo, tirar uma foto para postar no Orkut, só assim alguém acreditaria que um dia, em algum lugar perdido no tempo, crianças, como as de hoje, brincavam de pé no chão, se encarapitavam em árvores a busca da pipa do grandão da rua de baixo e dividiam, no gargalo a mesma tubaína. Tudo isso sem medo de contrair uma terrível virose ou algo do tipo. Mas uma coisa é verdade, jamais nossas crianças conseguirão entender como foi bom ser criança naquele tempo...

domingo, 8 de maio de 2011

HILDA HILST

“Vontade de não dar sentido algum

às coisas, as palavras e à própria

vida. Assim como é a vida na

realidade ausente de sentido.”

Hilda Hilst



Poeta, dramaturga, ficcionista... Hilda Hilst foi várias em uma. Considerada pela crítica uma das mais influentes escritoras do século XX, segundo o crítico Anatol Rosenfeld “pertence ao raro grupo de artistas que conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários que se propôs - poesia, teatro e ficção. Uma mulher bela, sedutora, amante da liberdade, moderna. Com seus textos, o real e imaginário se fundem, o jogo de palavras fascina. O há que de mais belo e chulo em nossa língua, em suas mãos, tem ares de genialidade. As usa com a maestria reservada a poucos.

Hilda nasceu em 1930, na cidade de Jaú. Viveu em Santos, São Paulo. Formou-se em Direito em 1952, mas largou a profissão por total incompatibilidade, correu o mundo. Optou por viver das palavras.

Seu primeiro livro – Presságios – foi publicado em 1950 e chamou a atenção da crítica. Não parou mais. De 1950 até 1993 foi de intensa produção literária. Sua obra foi traduzida para meia dúzia de línguas e fez sucesso no mundo todo. Hilda conseguiu tirar do seu leitor todas as reações, do amor ao ódio, terror, medo. Viu seu público e crítica escandalizados com o Caderno Rosa de Lori Lamby, primeiro livro de sua trilogia erótica - lançado em 1990 e adaptado para o cinema e teatro - em que nos confronta com a nossa própria sexualidade.

Hilda Hilst faleceu em 2004, na cidade de Campinas.

Apresentado à profª Regina Amélio, para a disciplina Cultura Literária II

terça-feira, 8 de março de 2011

E veio de novo... num repente... Aquela sensação de perda, um buraco. Ele pensou no que poderia ter feito de tão ruim, pois todos os aqueles com quem havia um dia se importado, um dia  amado, simplesmente sumiam na neblina.

E então entendeu que seu destino, por mais triste, talvez fosse ser sozinho. Mas naquele momento, não tinha forças, sequer para erguer a cabeça e encaram a vida que se descortinava a sua frente. Sentiu-se sem vontade de seguir adiante, pois havia tido um breve vislumbre do futuro, e esse futuro não era bom. Ela não estava ao seu lado.

Por mais que soubesse que o mundo continuaria, não se sentia capaz de acompanhá-lo, não sem ela. Não de novo, mesmo depois de tanto tempo. Não quando ainda, ao ouvir aquela música, a mesma que os embalara por tantas noites, aquela que ela lhe havia apresentado e sussurrado em seu ouvido, ainda lhe arrancava lágrima traiçoeiras. Então toda força se foi, não tinha mais nada... Por que não pediu que ficasse, que não o abandonasse? Por que não confessou que a amava? Por que havia deixado-a partir, se sabia que não poderia viver sem ela?

Nada disso importava mais. Está era sua última noite sozinho... Sucumbira...